VIAGEM CORAJOSA PARA 2019
Dois monges taoistas gostavam muito de viajar, conta uma velha história. Naqueles tempos, na antiga China, alguns viajavam a cavalo; as autoridades e os ricos viajavam em palanquins conduzidos por funcionários ou servos, estes sempre a pé.
Os nossos heróis não tinham nenhuma dessas comodidades e viajavam a pé, como quase toda a população do país.
Levavam uma pequena trouxa com raros pertences e algumas moedas para algum imprevisto.
E assim iam.
Para aonde? Nem eles sabiam. Simplesmente iam. Não tinham planos, não tinham objetivos.
Quando chegavam à beira de um rio e estivesse chovendo, se o mesmo dava vau, eles o atravessavam; caso contrário, sentavam-se às margens, esperavam a correnteza baixar ou então que surgisse algum barqueiro que os transportasse para o outro lado.
Quando chegavam a algum vilarejo, paravam diante de uma casa e pediam um prato de comida; se o dono da casa lhes negasse isto, agradeciam e iam bater em outra porta.
Para dormir, às vezes alguém lhes oferecia a sua casa ou um lugar no celeiro ou estrebaria; se isso não ocorria, dormiam em uma soleira, embaixo de uma árvore ou mesmo ao relento, caso não encontrassem lugar melhor onde passar a noite.
Às vezes um notável local interessava-se por eles e, sabendo que eram monges taoistas, convidava-os para participarem de um jantar, onde também convidavam seus amigos para discutirem com os monges os mistérios da vida. Só respondiam àquilo que lhes era perguntado; nada de falatórios sem fim, nada de querer convencer alguém sobre coisa alguma.
E assim iam viajando.
Outra história, também chinesa, diz respeito a Lao-Tsé, figura-chave do taoismo.
O filósofo, passeando pela cidade onde morava, deparou-se com um mendigo que vivia em situação extrema de pobreza. Entabulou conversa com o homem e foi notando que o mesmo era depositário de grande sabedoria. Como o homem demonstrava ter boa saúde, Lao-Tsé perguntou-lhe por que não trabalhava em algo, garantindo assim o seu sustento, deixando de depender, para viver, da caridade alheia.
O homem ficou perplexo e argumentou que nascera mendigo e devia continuar um pedinte para o resto da vida. Era esse o pensamento da época: os despossuídos (a maioria da população) pouco ou nada tinham porque na vida passada haviam feito coisas terríveis e agora estavam se purificando. Os ricos, por sua vez, eram o contrário: na vida anterior haviam feito coisas edificantes e agora estavam sendo recompensados com a abundância…
Lao-Tsé exortou o mendigo a mudar de vida e se propôs a ajudá-lo. O homem quis saber como fazer isso e o mestre lhe disse:
-Você já observou alguma vez as grandes borboletas azuis que revoam pelos arbustos de chá? Você sabe que aquele animal belíssimo surge de uma larva grosseira e voraz?
O homem respondeu que sim, que conhecia essa metamorfose. Lao-Tsé prosseguiu:
-Bem, se todos tivessem que permanecer naquilo em que nasceram, então não teríamos as belas borboletas azuis.
Tal explicação convenceu o mendigo, que se dispôs a acompanhar o mestre e, segundo o relato, tornou-se um colaborador destacado de Lao-Tsé.
Ambas as histórias nos convidam a confiarmos no Universo (no caso dos monges taoistas) e abandonarmos as nossas crenças limitantes (no caso do mendigo) e nos lançarmos sem medo ao novo.
Abrimos mão de tentar controlar o Universo e passamos a confiar que ele nos dará o melhor, que dará tudo aquilo que precisamos. Tornamo-nos parceiros do Universo.
Abrimos mão do limitado para nos entregarmos ao ilimitado. Então, daremos razão a Rabindranath Tagore, escritor indiano já falecido, quando disse: “Lemos o mundo de maneira errada e dizemos que ele nos engana”.
Vamos fazer de 2019 o ano das mudanças profundas? Vamos transcender a lagarta e nos transformarmos numa bela borboleta? Uma coisa é certa: se assim procedermos, teremos o Universo do nosso lado. Existe coisa melhor? Então, 2019 será um ano excepcional.
25.12.2018
Escrito por: NILTON TORNERO