O OUVIR EMPÁTICO

 In Blog, Conexão Espiritual

Estamos aqui para nos afinar na nossa humanidade. Você acha isso possível?

Pois bem, depois de ler um tiquinho das ideias de Carl Rogers, e a oportunidade de praticar um pouquinho (no Plantão de Atendimento Solidário de Botucatu (PASB) sob uma coordenação maravilhosa) chego à conclusão que podemos ter uma vida mais agradável praticando o ouvir empático.

Experienciei que é possível aceitar outra pessoa mesmo tendo-se divergências conceituais com ela. Isso só se me dispuser em compreender as suas motivações, sentimentos.

Será que é possível focar o universo interior de uma pessoa quando estamos conversando e amadurecermos juntas num ambiente harmônico de calor humano? Caso sim, como proporcionar esse ambiente?

Bem, Carl Rogers coloca que esse ambiente pode ser alcançado uma vez que haja confiança. E aí surge, no seu livro Tornar-se Pessoa, uma aparente contradição: só quando tenho consciência das minhas próprias atitudes e sentimentos é que a outra pessoa deposita confiança em mim. E perco a confiança do outro quando deixo de me ouvir.

Portanto, para ouvir bem a outra pessoa, preciso ouvir-me, conscientemente, ao ouvi-la.

E Carl Rogers explica esse mecanismo, que entendo que obedece a uma lei universal, “a lei da ação e reação”: quando ouço da outra pessoa algo que desperta em mim um dado sentimento, emano de mim formas de expressá-lo e essa pessoa capta e reage devolvendo-me o seu sentimento. Ao perceber a sua reação posso assustar-me, ter medo, despertar para outros sentimentos que até então estavam inconscientes e me fecho nas minhas defesas. Daí em diante a conversa, geralmente, perde o sentido empático.

Agora, se eu presto atenção aos sentimentos que me surgem, estimulados pelo que acabo de ouvir, posso estar mais preparada para a reação vinda ao meu encontro, e aceitar tal reação. Dessa forma, voltamos a nos tratar empaticamente e recuperar e até mesmo fortalecer um ambiente de confiança.

Pois bem, além da ação e reação, há o fato de que se me permito sentir esses sentimentos deixo de me culpar. Aceitando-os, posso ser autêntica comigo, evitando criar falsas defesas.

Qual é a consequência disso? Amadurecimento de ambas as partes.

Acho isso mágico!

Tudo bem. Conseguindo manter um ambiente de confiança, o que decorre disso? Aspectos muito maiores do que se possa imaginar…

Eu fico mais à vontade comigo mesma, fico mais confiante em mim; consigo cada vez mais ouvir melhor o meu mundo interior; posso admirar o mundo interior da outra pessoa na sua diversidade; admirar a forma com que ocorre a expansão das consciências.

Quanto à pessoa que está se comunicando comigo, provavelmente ao ter, não só, as suas palavras ouvidas com atenção, mas também os seus sentimentos, sente que foi acolhida, compreendida, aceita. Se ela tinha um sentimento de ser apenas uma insignificante pessoa entre bilhões que há no mudo, percebe que é especial nesse momento. Isso devolve a ela um frescor de vida, que ela pode lembrar-se no futuro e atuar de forma construtiva em situações estressantes, de fortes tensões.

TERESINHA TORNERO

Mais ainda, sendo compreendida, a pessoa continua expandindo a sua consciência, num aprendizado autorrevelador, empoderador, de amor a si mesma, desfazendo as defesas baseadas no medo de nunca ser compreendida ou de ser mal interpretada. Isso pode significar, para ela, que o ar da vida corre por seu corpo, e a sua alma pode festejar as oportunidades que se apresentam.

Será que precisamos mais do que isso? Por qual motivo deixaríamos de proporcionar para a outra pessoa tal aventura? E por qual motivo deixaríamos de nos proporcionar o mesmo conforto, visto que caminhamos juntas nessa aventura?

Bem, como você vê, seguir este caminho é apaixonante.

Do ponto de vista prático, vou discorrer sobre algumas dicas, emprestadas do livro de Dale Carnegie Como fazer amigos e influenciar pessoas, para exercitar essa jornada do ouvir empático.

Há situações em que a pessoa vem lhe fazer uma pergunta simples, apenas buscando uma informação, sem intenções ocultas. Por exemplo: “O que é isto?”. Lembre-se: 1º) ouvir-se!

Se você está ou com uma panela no fogo, ou sobre uma escada, ou em pleno trabalho com o seu chefe, com certeza sua atenção ficará dividida. Talvez você fique tão ansiosa que se atrapalhe em responder e continuar ao mesmo tempo a sua tarefa. Você pode cair da escada…e, ao invés de ajudar quem pediu a informação, precisar ser acudida no acidente! Nenhuma das duas se beneficiará.

Também, ouça-se nos seus sentimentos: inquietação, raiva, irritação pela interrupção?

Lembre-se: 2º) proporcionar ambiente de confiança!

Na situação descrita acima, creio que o melhor é achar alguma maneira de mostrar que está interessada em responder a pergunta, quer cumprimentando a pessoa recém-chegada quer dizendo-lhe que pode atendê-la  e que o fará dentro de alguns instantes.

Lembre-se: 3º) compreenda-a, isto é, ouça-a além do que sai da boca…

Respondendo à pergunta direta, aguarde a direção que ela dá à conversa; deixe a pessoa falar na maior parte do tempo, ouvindo-a integralmente: palavras, gestos, sentimentos. Tudo isso sem esquecer-se de ouvir seus próprios sentimentos.

Bem, você acha isso fácil. Ora, foi apenas um pedido de informação…

Concluo pensando quanto ainda tenho que me expor a essa experiência para amadurecer junto às pessoas que me cercam…

Bibliografia sugerida:

Rogers, C. Tornar-se pessoa. São Paulo: Martins Fontes, 1985.

___ Um jeito de ser. Disponível na internet em pdf (versão em espanhol).

Carnegie, D. Como fazer amigos e influenciar pessoas. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 2003.