VIVENDO NO PILOTO AUTOMÁTICO. EXISTE SAÍDA?
Já é conhecido, desde os anos 80 do século passado, que a formação do subconsciente começa antes mesmo de a criança nascer. Sabe-se hoje que, mesmo no útero materno, o feto é um receptor de estímulos tanto internos (que vêm da mãe) como externos (que vêm do meio ambiente que o circunda).
Há muita diferença se o feto cresce em um meio tranquilo ou não. Um feto que cresce em um meio onde as relações entre os pais são problemáticas ou mesmo onde uma mãe solteira tem receios de como será a vida de seu filho, cresce diferentemente daquele que se desenvolve em um meio harmonioso, onde ele é desejado e pode se desenvolver em relativa segurança.
Existem estudos que correlacionam o desenvolvimento da vida fetal com as doenças e desequilíbrios que a criança poderá ter quando adulta. Como exemplo podemos citar uma pesquisa feita em Harvard que verificou que meninas que nascem com menos de 2,5 quilos apresentam um risco 23% maior de terem doenças cardiovasculares que as outras. Por outro lado, existem pesquisas correlacionando o baixo peso ao nascer ao estresse materno, que pode ser ocasionado, entre muitas outras causas, por desajustes da mãe com o cônjuge. Algumas sociedades chamadas primitivas conhecem bem estes fatos e os casais passam por cerimônias de purificação da mente e do corpo antes de terem um filho*.
Quando a bebê nasce, a interferência exterior sobre o mesmo é cada vez mais poderosa. Os pais – ou aqueles que estão mais próximos: avós, tios) – vão inculcando na criança, desde tenra idade, as chamadas “boas maneiras”. “Não faça isso que é feio!”, “não faça aquilo que é errado!”, são frases ouvidas com muita frequência. Igualmente vão passando ao bebê seus medos, temores, rancores, ou seja, a sua maneira de ver o mundo.
A sociedade começa a moldar a criança. Todas essas primeiras experiências, que vão do momento da concepção até os 6-7 anos ficam registradas no subconsciente da criança como memórias e, a partir dessa época, o ser passa a ser dirigido cada vez mais por estas memórias, embora pense que está fazendo escolhas quando uma determinada situação se apresenta.
A sociedade continua a moldar a criança conforme os seus interesses. Logo não são mais os pais e os próximos que lhe passam os seus valores; outros atores entram em cena. A criança vai à escola, passa a frequentar uma igreja; depois, um partido político, agrupamentos vários. As crenças, os medos, as regras e os preconceitos vão sendo, gradativamente, inculcados, sub-repticiamente, na jovem mente, em nome da verdade, do bem viver na sociedade. Não que tal processo seja de todo ruim: valores altruístas, de amor ao próximo, à natureza, aos animais, podem muito bem ser inculcados. No entanto, até recentemente pelo menos, não era o que acontecia com maior frequência. A criança, de um modo geral, incorpora os valores, as crenças, os preconceitos da sociedade, pois ela, embora individualizada, faz parte de um coletivo; ela absorve os valores desse coletivo. Note-se que esses valores mudam frequentemente, o que nos leva a concluir que a “verdade” da sociedade muda a cada dia. Muitas vezes essa “verdade” muda de acordo com interesses de grupos poderosos. O individuo, com o tempo, passa a ser mais um carneiro num rebanho, mais um palito numa caixa de fósforos.
Todas essas informações que o ser recebe vão sendo guardadas no subconsciente. É mesmo difícil para nós imaginarmos o quanto o subconsciente é importante nas nossas vidas. Pesquisas têm mostrado que o subconsciente é capaz de processar mais ou menos 20 milhões de estímulos ambientais por segundo (captados pelos órgãos dos sentidos); destes, somente 40 estímulos são percebidos pela mente consciente.
A proporção entre a mente subconsciente e a consciente é, também, assustadora. Imagine a tela do seu computador com um pontinho minúsculo no centro: a tela representa o subconsciente enquanto que o pontinho representa o consciente.
Talvez a comparação com a tela do computador seja pouco para dar uma ideia da amplitude do subconsciente; na verdade, ele é bem maior. Basta imaginarmos os nossos órgãos dos sentidos trabalhando todos os segundos do dia armazenando informações que vão para lá, processando, como dissemos, 20 milhões de informações por segundo. Além disso, a maioria de nós já viveu aqui na Terra milhares de vidas. Em cada uma dessas vidas recebemos quantas? (trilhões, quatrilhões?) de informações. Além disso, tivemos contato, em cada vida, com centenas, milhares de pessoas, que também deixaram as suas marcas em nós. Todas essas marcas, informações, experiências (“boas” ou “más”) povoam o nosso subconsciente e estão aí para se manifestarem quando surgem as oportunidades. Vivemos centenas, milhares de emoções, de situações; é possível dizer que já experimentamos de tudo neste mundo; se não foi nesta vida, foi em uma vida passada. Esse fato faz nos identificarmos com as outras pessoas que também passam por certas experiências. Às vezes dizemos a estas pessoas: ”eu te compreendo, pois também já passei por isto”, nos lembrando de uma experiência semelhante nesta vida. Outras vezes, também compreendemos a pessoa, sem saber exatamente por quê. Mas esta empatia vem lá do subconsciente que nos lembra, vagamente, que já passamos por situação semelhante em uma vida passada.
O subconsciente é um repositório de memórias, ou seja, do passado; no entanto – e isto parece contraditório – ele está presente o tempo todo. Não importa se a experiência ocorreu há três mil anos; ela está aí, como se tivesse ocorrido hoje de manhã. É só apresentar-se a situação e ela se manifesta, através de nossa mente consciente.
No mundo exterior, que é esse para o qual somos treinados, fala-se muito no livre-arbítrio. É ideia geral pensar que escolhamos os nossos atos, que somos senhores do nosso nariz e do nosso destino. Nada mais enganoso. Pesquisas têm mostrado que quando vamos tomar uma decisão (ou seja, vamos exercer o “livre-arbítrio”) o subconsciente já enviou, segundos antes, a decisão a ser tomada para a mente consciente. Somos, pois, dirigidos pelo subconsciente, embora sejamos levados a acreditar que temos controle sobre a nossa vida. É por isso que, diante de situações parecidas, tendemos sempre a agir de maneira semelhante. A solução já está no subconsciente, pronta, aprendida durante esta e outras vidas. Somos dirigidos pelas memórias, que faz o papel de nosso piloto automático. Dentro deste contexto, o livre-arbítrio não tem sentido. Na verdade, o livre-arbítrio só é exercido uma única vez na vida: é quando você decide se pretende continuar sendo dirigido pelas memórias e continuar sendo uma ovelha no rebanho ou então se você opta por procurar ser você mesmo e começar a apagar essas memórias.
Isto é possível?
Não só é possível como é a única saída para aqueles que desejam se libertar das crenças, dos preconceitos, das regras, dos “valores” da sociedade que mudam frequentemente, só trazendo sofrimentos àqueles que acreditam neles.
É aí que entramos no fascinante capítulo do conhecimento interior. Isso começa quando começamos a nos perguntar: “quem sou eu”? E só existe uma maneira de você responder a essa pergunta: mergulhando em si mesmo. Lembre-se que cada um de nós é uma verdadeira biblioteca da existência humana; tudo que você precisa está dentro de você, assim como tudo aquilo que precisa ser descartado. Em outras palavras, é a conexão com o Divino (não importa o nome que damos a isso) que nos liga ao Universo e que nos revela a verdade, verdade nossa, de mais ninguém. A verdade nossa não pode ser encontrada em livros, na imitação dos outros, por mais felizes que eles pareçam. Se felizes são, é porque descobriram a verdade deles. Temos que descobrir a nossa e isso somente nós podemos fazer. Somente nós temos condições de viajar neste labirinto intrincado que é o nosso subconsciente e irmos fazendo aquilo que se chama de “limpeza”, ou seja, irmos absorvendo tudo aquilo que tem vida própria (as memórias) e que nos incomoda e integrar tudo isso no nosso todo, pois essas memórias fazem parte do nosso ser. Não devemos lutar contra elas, mas sim conhecê-las e integrá-las no nosso todo. Lutar contra elas é reforçá-las; elas ficarão aí para sempre. Quando você as aceita, elas são integradas e vão desaparecendo.
Como dissemos, esse é um processo eminentemente individual e cada um deve procurar a melhor maneira de fazer isso dentro de si. A boa notícia é que quando você toma a decisão de se conectar com o Divino, o próprio Universo começa a lhe mandar instruções, sob a forma de inspirações, de intuições e por meio de muitas outras maneiras. Um mundo fascinante se abre e se renova a cada dia com mais surpresas. Você, aos poucos, vai sabendo quem você realmente é. O mundo exterior começa a ter, a cada dia, menos importância. Você vai sentindo a verdadeira liberdade.
Permita-me que, como ilustração, eu diga algo sobre a minha própria experiência.
Vivemos em uma época privilegiada para nos desfazermos das memórias incômodas, pois a Terra passa por um momento excepcional em sua evolução. O que devemos fazer é nos alinharmos com o fluxo da mudança; então as inspirações, as intuições começam a chegar.
Quando uma situação me causa algum tipo de mal-estar procuro, imediatamente, por aquilo “que está por trás”, como eu chamo, do fato. Por exemplo, alguém me contempla dizendo algo que intimamente me fere. Ao invés de criticar a pessoa, procuro, cada vez mais, descobrir, dentro de mim, por que aquilo me feriu. Na verdade, não feriu o meu ser divino, mas sim o ego, pois uma memória se manifestou. Tenho notado que o simples fato de reconhecer que foi o ego que se feriu já é suficiente para apagar essa memória, em grande número dos casos. Às vezes isto não basta. Então busco na mente consciente uma explicação para o fato. É isso que “está por trás”? Nem sempre. Se o coração não ressoar com a explicação é porque ainda caminho na superfície. Então procuro mais fundo e lembranças (memórias) vão surgindo. Quando uma dessas lembranças da vida tiver uma atração indissolúvel com o coração, é porque a explicação está aí. Às vezes é um fato doloroso, do qual posso me envergonhar. Mas é o ego que se envergonha, não eu. Trazendo a lembrança à mente consciente, aceito-a, reconheço-a como parte de mim e peço, gentilmente, para se incorporar ao meu ser multidimensional. Então a questão se resolve.
Algumas vezes a coisa vai longe. Em várias situações não encontrei a lembrança nessa vida, por mais que a vasculhasse, principalmente a infância. Então uma vida passada se manifestou, trazendo à mente consciente uma memória que elucidou o fato; este, então, vai se resolvendo, com a incorporação no meu ser total.
Não tome a ilustração acima como modelo a ser seguido. A ilustração talvez sirva para ajudá-lo a abrir as suas próprias portas; se não lhe servir para nada, por favor, esqueça-a. Busque o seu próprio modelo.
*Os dados citados foram retirados do livro de Bruce H. Lipton “A biologia da crença”, Butterfly Ed., 2007. O autor compila interessantes e várias pesquisas sobre o tema.
Escrito por: NILTON TORNERO