NOVAS MEDICINAS ALTERNATIVAS NO SUS

 In Blog, Cantinho das Boas Notícias

Recentemente, os jornais (1, 2, 3) noticiaram amplamente: realizou-se no Rio de Janeiro, entre os dias 12 e 15 de março, o 1º Congresso Internacional de Práticas Integrativas e Saúde Pública.

Nesse Congresso foi anunciado que mais dez terapias alternativas passam a ser oferecidas pelo SUS à população, entre elas ozonioterapia, aromaterapia, constelações familiares, cromoterapia, terapia dos florais. Ao lado de dezenove outras já existentes, que vêm sendo incrementadas pelo Ministério da Saúde desde 2006, o nosso país coloca à disposição da população um total de vinte e nove dessas terapias, entre elas acupuntura, homeopatia (as mais antigas), fitoterapia, medicina tradicional chinesa, ayurveda, meditação, musicoterapia, naturopatia, quiropraxia, yoga.

Essas práticas integrativas são aquelas que utilizam os conhecimentos das diversas medicinas tradicionais e alternativas voltadas ao tratamento e a prevenção de doenças, principalmente as crônicas. Em linhas gerais, as medicinas tradicionais são aquelas praticadas em determinados locais há milhares de anos, como a medicina tradicional chinesa, a ayurveda (Índia), o uso de plantas medicinais. As medicinas alternativas (ou complementares) são aquelas que não fazem parte da tradição nem da medicina convencional, nem estão totalmente integradas no sistema de saúde predominante em dado país, como a aromaterapia, a ozonioterapia, as constelações familiares, etc. Medicina convencional é o termo que geralmente se dá à medicina ocidental; é aquela que conhecemos, é a medicina oficial em muitos países, inclusive o nosso.

Na abertura do Congresso, disse Ricardo Barros, Ministro da Saúde: “Com isso, somos o país líder na oferta dessas modalidades na atenção básica (de saúde). Essas práticas são investimentos em prevenção à saúde para evitar que as pessoas fiquem doentes. Precisamos continuar caminhando em direção à promoção da saúde em vez de cuidar apenas de quem fica doente”.

Disse também o ministro: “Hoje, temos 29 práticas integrativas e complementares à disposição dos brasileiros. Elas são milenares e têm resultados efetivos e eficácia comprovada”.

Essas práticas estão respaldadas pelo Ministério da Saúde, porém, a sua implantação depende de cada município e também da demanda da população. Não deve ser muito fácil essa implantação, pois há necessidade de escolha de bons profissionais nessas áreas para que a população não seja prejudicada. Nunca é demais repetir que um dos axiomas básicos da medicina é, antes de tudo, não prejudicar o paciente. Acreditamos que cursos regulares sobre essas terapias são necessários, além dos que já existem.

O anúncio dessas práticas tem tudo a ver com as melhores orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre o assunto (4). A incorporação dessas práticas à prestação de serviços de saúde já há tempos vem sendo recomendada pela OMS; para sermos mais precisos, desde 1978, durante a Conferência Internacional de Saúde de Alma-Ata (Cazaquistão), ou seja, há exatos quarenta anos.

Nesse tempo, a incorporação dessas medicinas tradicionais e alternativas só têm aumentado pelo mundo. Em 1999, por exemplo, 25 países tinham políticas sobre essas práticas; em 2012, o número já era 69. Ainda, em 1999, 65 países tinham regulamentação sobre medicamentos herbáceos; em 2012, já eram 119 países.

A acupuntura era prática integrante da medicina tradicional chinesa; hoje é utilizada em todo o mundo; 80% dos países reconhecem a sua utilização.

Segundo a OMS, a ayurveda e a medicina tradicional chinesa estão disseminadas pelo mundo. E com razão, pois têm um acervo de conhecimentos adquiridos em milhares de anos de prática e de observação, ao lado da fitoterapia, que também faz parte dessas medicinas.

Outras práticas, como a medicina antroposófica, a quiropraxia, a homeopatia, a naturopatia e a osteopatia são vastamente utilizadas no mundo.

O certo é que as populações do mundo todo, principalmente as do mundo ocidental, cada vez mais procuram essas práticas. Por quê? A OMS aponta várias causas. Uma delas – talvez a mais importante – é que essas medicinas tradicionais e terapias alternativas costumam ver a pessoa de uma maneira holística, levando em conta seus aspectos mentais, emocionais e espirituais (chamados de corpos sutis), o que a medicina convencional raramente faz.

Isso é fundamental no tratamento das doenças crônicas, sendo esta abordagem justamente o ponto forte dessas medicinas. A população vai notando, cada vez mais que, nas doenças crônicas, o tratamento é mais lento, no entanto, muito mais eficaz que o tratamento convencional. E isso é muito sábio, pois ninguém adquire uma doença crônica da noite para o dia: ela costuma levar anos para se manifestar. E, conforme o nosso ponto de vista, elas têm origem nos corpos sutis citados, conforme dissemos em outro artigo (5). Quando esses aspectos são levados em conta, a cura – e não só a melhora – é mais fácil de ser alcançada.

 Nos Estados Unidos, por exemplo, 23% das visitas aos osteopatas se devem a doenças reumáticas; na França, grande parte das doenças crônicas do aparelho locomotor é atendida pelas medicinas tradicionais. Os terapeutas dessas medicinas atendem, em seus serviços, 41% de pacientes com esclerose múltipla na Espanha; no Canadá, essa taxa sobe para 70% e na Austrália, para 82%.

Essas cifras ilustram o fato de que essas populações confiam nesses serviços para se tratarem das doenças acima, onde a medicina convencional não fornece muitas alternativas.

Essa preferência crescente por terapias alternativas no caso de doenças crônicas é ilustrada muito bem por um depoimento do Dr. David Servan-Schreiber em seu livro Anticâncer: prevenir e vencer nossas defesas naturais (6).

Estando na Índia, em Dharamsala, que é a capital do Tibete no exílio, o doutor David observou que na cidade havia dois sistemas de saúde distintos. Havia um hospital moderno, montado nos moldes ocidentais, com serviço de cirurgias, de exames complementares, com radiografias, ultrassons e remédios que conhecemos bem. Ali atendiam médicos formados na medicina ocidental, convencional, aquela que conhecemos. Mas havia também uma faculdade de medicina que ensinava a medicina tibetana tradicional; havia a fabricação de medicamentos a base de plantas. Os médicos tibetanos atendiam aos pacientes de forma completamente diferente daquela que o Dr. David conhecia, ou seja, daquela que estamos acostumados a ser atendidos aqui no ocidente.

Relata o Dr. David que os médicos tibetanos “examinavam o corpo como quem olha a terra de um jardim. Não procuravam os sintomas da doença, que são com frequência evidentes. Não, eles procuravam, sim, as falhas do terreno, o que estava faltando para que ele pudesse se defender da doença. Queriam compreender como aquele corpo, aquele terreno, deveria ser reforçado para poder enfrentar por si mesmo o problema que levara o paciente a se consultar”.

Usavam, como tratamento, a acupuntura, a meditação, os medicamentos à base de plantas, a correção da alimentação, terapias que o Dr. David, como médico de formação ocidental que era, não estava acostumado a ver.

Tudo isso o deixou muito intrigado. Começou, então, a perguntar aos médicos tibetanos e a outras pessoas em que ocasiões um paciente procurava o hospital ocidental ou o serviço tibetano de saúde.

Prossegue o Dr. David: “Eles me olhavam todos como se eu tivesse feito uma pergunta idiota. ‘Mas é evidente’, respondiam em coro. ‘Se for uma doença aguda, como uma pneumonia, um infarto, uma apendicite, é preciso ver os médicos ocidentais. Eles têm tratamentos muito eficientes e rápidos para as crises ou os acidentes. Mas, se for uma doença crônica, então, é preciso ir a um médico tibetano. Os tratamentos são mais lentos, mas eles cuidam do terreno em profundidade, e no longo prazo é a única coisa que de fato funciona’.

 

Outras razões por que as populações escolhem essas terapias são apontadas pela OMS: o baixo custo do tratamento; a ênfase na prevenção; ao fato de a pessoa ser convidada a participar ativamente de sua própria saúde. Além disso, são terapias frequentemente enraizadas na cultura popular de um dado país, de tal modo que as pessoas nelas confiam porque veem seus benefícios o tempo todo.

Resumindo, podemos dizer que a incorporação dessas práticas da medicina tradicional e alternativa é um fenômeno universal, ocorrendo em praticamente todos os países do globo.

Com a incorporação dessas práticas, estamos seguindo o fluxo natural da atenção à saúde, que só deve ter um objetivo: colocar todas as conquistas dos diversos povos no âmbito da saúde (e de outros, também) à disposição da população. São, todas essas terapias, patrimônios da humanidade.

 

Escrito por: NILTON TORNERO